sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Et fiat vino!

Um grande olá!

A partir de hoje começo a me aventurar e me atrever a escrever pequenos textos sobre vinhos. São as minhas impressões sobre esta birita apaixonante, misteriosa e ancestral. Além disso, pretendo compartilhar as minhas experiências e toda a empiria da minha ousadia de fazer vinho tino fino seco artesanal em pleno coração dessa província brasileira: Belo Horizonte, MG. Vou procurar — e espero conseguir — usar uma linguagem menos empolada e mais objetiva, sem me fixar muito nos fetiches enciclopédicos que costumam habitar alguns textos sobre vinhos. OK! Já soou meio pretensioso, no mínimo. Mas juro que não há pretensão estéril alguma — apenas as fundamentadas, Rá! Na verdade, o que há é um apreço avassalador pelo assunto, por suas histórias, costumes e, principalmente para mim, por suas práticas. Sim! Essa é a parte que me moveu.

Não sou enólogo. Não tenho formação enológica formal. Estou mais para um enófilo curioso e enólogo tardiamente autodidata. Comecei meu envolvimento com isso assim como a maioria começou mas não tem coragem de assumir: tomando vinhos baratos de garrafão — sim, aqueles mesmos: Canção, George Albert (carinhosamente apelidado de Jojobé), Mosteiro, Sangue de Boi e afins (Catuaba Selvagem, por exemplo). Já passei por todo tipo de provação enológica, mas isso será assunto para outro texto. O que quero frisar aqui é que, caso eu fale alguma besteira, não se sinta ofendido e indignado por deturpar e afrontar as tradições mas sim, alerte-me para que eu possa corrigir a tempo de pagar pouco mico.

Apesar disso, na minha caminhada pelas descobertas enológicas, percebi que degustar um grande vinho é como escutar uma música que se gosta muito: é uma experiência sensorial única e individual a cada vez. Do mesmo modo, fazer um bom vinho se equipara a compor uma grande música, só para falar em termos do que entendo por formação. Sou compositor graduado pela UFMG, o que significa que aprofundei-me na arte de combinar sensações para puro e simples deleite, apesar destas serem sonoras e não olfato-gustativas. A minha história de formação sempre foi afeita à arte do fazer, seja uma música, poema, quadro, desenho, dissertação, artigo ou até mesmo, um vinho. Porém este último só me atrevi a tentar há cerca de 2 anos. E tudo começou após uns 8 anos de desgustação gradualmente mais atenta a esta bebida, logo após assistir ao filme "Um bom ano" combinado a uma degustação de vinhos artesanais do Ateliér Tomentas. Fiquei matutando se seria difícil fazer vinho.

Em tese, fazer vinho é simples. Afinal, se essa birita tem pelo menos 3000 anos — já se fazia e se bebia vinho muitos anos antes de adegas climatizadas, geladeiras, luz elétrica, redes de esgoto, água tratada, açúcar e outras comodidades da vida moderna —, não pode ser tecnologicamente tão complexa. Assim, a prática de fazer vinho também não deve ser, afinal é basicamente suco de uva fermentado e pronto, certo? Sim e não. Sim, pois é isso mesmo: suco de uva fermentado. Para ser mais exato com a terminologia vinícola, mosto de uva fermentado — mistura entre suco e partes sólidas da uva (cascas, sementes, etc). Ao mesmo tempo, não. As nuances do processo de feitura são infinitas, difenciando totalmente os resultados, indo do vinagre a um belo vinho tinto seco. Só para se ter uma ideia do que estou falando: se o vinho é somente um sucão hiperintegral de uva fermentado, com pouca intervenção humana (também em tese) no processo, então a qualidade da uva deve influir decisivamente na qualidade do vinho, certo? Sim. Aqui vai um dos surrados bordões da enologia: é possível fazer maus vinhos com uvas boas, mas não o contrário. Portanto, faz-se muito do vinho na condução das videiras, na espécie da planta, no clima e solo que sustentam a plantação, na seleção criteriosa de uvas na colheita... e isso tudo sem entrar em detalhes. Palmas para os agrônomos, que tentam gloriosamente entregar uma uva nos moldes desejados pelos enólogos, administrando toda essa série de fatores.

Mas daí, para quem quer fazer vinho artesanalmente em Belo Horizonte, temos a primeira dificuldade: onde diabos vou arrumar uva boa para vinho? O que é uma uva boa para vinho?
Tcharam!!! Assunto para um próximo texto!

Inté!

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